Dependência Química e o Crescimento do Crack

28/02/2011 11:17


O hábito de consumir drogas é uma prática humana, milenar e universal. Não existe sociedade que não tenha recorrido ao seu uso, em todos os tempos, com finalidades as mais diversas. Seja para amainar dores, para trazer relaxamento, euforia, ou mesmo para atingir níveis alterados de consciência, as substâncias psicoativas sempre estiveram presentes na evolução das sociedades.

O uso dessas substâncias, em boa parte do caminhar da evolução das sociedades humanas, invariavelmente esteve ligado aos rituais religiosos, a momentos de êxtase coletivo, à busca de novos horizontes para superar situações de limite. Porém, a partir de meados do século passado, a busca pelas substâncias entorpecentes, por busca desenfreada de prazer, ou para a fuga de realidade cruel – real ou simbólica – tem sido a grande motivação para o uso, que deixou de estar relacionado a ocasiões para chegar a um avassalador número de indivíduos dependentes químicos.

A despeito da quantidade e da qualidade da produção científica que versa sobre o assunto, há uma série de interrogações sobre o percurso que o usuário percorre até o momento do início do uso, e principalmente que fatores mantenedores foram importantes para aquele indivíduo. Por ser uma vivência deveras individual, nas quais fatores sociais e culturais interagem com um equipamento individual singular, a ciência ainda precisa caminhar bastante para encontrar as melhores opções de tratamento.

Em nosso meio, uma droga em específico tem chamado a atenção da opinião pública e dos profissionais de saúde, tanto pelo crescimento vertiginoso de seu consumo, como pelo potencial de efeitos devastadores provocados em seus usuários: o crack. Esta droga, a qual é a forma inalada da cocaína, tem não apenas devastado a vida de usuários dependentes da droga, mas também arruinado a estrutura das famílias envolvidas e traz uma série de prejuízos sociais no meio nos quais está inserida.

O combate eficaz está associado a desenvolvimento científico aliado a confecção de políticas públicas adequadas para o seu enfrentamento. Isso significa que não são apenas os profissionais de saúde que estão envolvidos na resolução da questão. É primordial a participação efetiva da gestão em todas as esferas, no sentido de dar suporte legal e de estrutura de ambientes adequados para o tratamento destes indivíduos doentes. O tratamento medicamentoso e psicoterápico é mais valioso quando realizado em ambientes terapêuticos adequados, unidos a projetos de reinserção familiar e social do paciente.

A importância de pesquisas neste tema deve ampliar o conhecimento do público envolvido, principalmente os profissionais envolvidos na saúde mental, e suscitar o debate em torno do enfrentamento da droga, para engajar novos atores em tão árdua tarefa.

 

Roberto Mendes dos Santos

Médico Psiquiatra